sábado, 9 de abril de 2011

Todo mundo sofre às vezes...

Serenidade

Hoje foi um dia bem leve. Peguei a estrada com minha mãe e minha irmã rumo a Recife. A chuva nos acompanhou durante todo o percurso. Uma viagem bem tranquila... só nós 03 no carro. Um friozinho bão, música boa, papo bom!!! Não tive nem tempo pra pensar em bobagens. Na verdade, já tem uns dias que pensamentos negativos não passam pela minha cabeça. Estou aceitando bem o que estou passando, porém não conformado. Acredito que precisamos aceitar o sofrimento para enfrentá-lo. Negá-lo só piora as coisas, porque se torna fuga.

Esse será um fds de descanso, distração. Afinal, segunda-feira já recomeça a jornada aos médicos, exames e afins. Aproveitar para preparar ainda mais minha cabeça para as novas notícias que virão sobre meu caso... sejam elas quais forem.

Buscando respostas

Daqui a pouco estarei a caminho de Recife. Ouvir novas opiniões médicas. A equipe que está me acompanhando no momento, apesar de ser muito competente, me deixou num impasse. Cabe a mim decidir sobre prováveis riscos. Acredito que novas alternativas vão clarear a situação. Espero voltar de lá com mais esperança!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O pior dia da minha vida

Hoje faz exatamente 01 mês que tudo aconteceu. Pela primeira vez encontrei coragem de escrever sobre aquele dia. Ainda é difícil relembrar. Me traz ansiedade, angústia e até uma sensação de pânico... traz dor, tristeza. Mas mesmo assim decidi escrever, porque a escrita sempre foi meu escape... uma forma de desprendimento do que me aflige.

"Em 08 de março deste ano, eu, minha irmã e nossos amigos estávamos num bloco do carnaval de Salvador, quando surgiu uma briga gigantesca na pipoca, que acabou invadindo o bloco. Fomos quase esmagados, todo mundo desesperado tentando fugir da confusão. Eu tentava proteger minha irmã, nos abraçávamos para não cairmos, para não sermos pisoteados. De repente a polícia apareceu, e numa atitude de total despreparo, iniciou um espancamento em massa, não importando se você tinha ou não a ver com a confusão. Nessa hora o caos se estabeleceu. Minha irmã e nossos amigos acabaram sendo arrastados pra longe de mim. Eu me mantinha de costas para toda a confusão. Foi quando tive a sensação de alguém falar no meu ouvido: vire-se! Quando virei, vi um cacetete vindo na direção do meu rosto. Não tive como desviar, tudo aconteceu muito rápido, questão de segundos! Fui atingido diretamente no olho esquerdo. Por pouco não foi na minha nuca. Senti uma dor insuportável, indescritível. Nunca senti uma dor como aquela na minha vida. Soltei um forte grito de dor, que acabou abrindo uma roda a minha volta. Me agachei desesperado, pus a mão no olho e só jorrava sangue sobre o asfalto. Muito sangue!

Fui carregado por minha irmã e nossos amigos às pressas em direção ao carro de apoio para os primeiros socorros. Eu sentia pânico, porque as pessoas me olhavam com pavor, tive a sensação do meu rosto estar desfigurado. Chegando lá, encontrei pessoas em situação pior do que eu. Os médicos recém-formados que ali estavam tentavam contornar a situação, mas a completa falta de estrutura e a gravidade dos casos só permitia que eles agissem com paliativos. Era assustador olhar a expressão de aflição de minha irmã. Ela se sentindo impotente diante de tudo aquilo, querendo me ajudar mais, porém sem saber como. De repente minha pressão caiu, tive uma forte sensação de desmaio, eu estava perdendo muito sangue. Foi quando desesperado rezei o "Pai Nosso", implorando pra não desmaiar naquele lugar. Meu pedido foi atendido e mantive a consciência durante todo aquele momento. Eu e minha irmã, por sermos da saúde, acabávamos orientando os médicos, que estavam mais desnorteados do que tudo diante da proporção de feridos. Quanto a meu olho, eu tinha dois cortes profundos nas duas pálpebras (superior e inferior), que necessitavam de sutura urgente para conter o sangramento, além disto, se formou um edema enorme sobre o olho, tipo uma bolsa de sangue e hematomas.

Fui encaminhado, pela equipe de segurança do bloco, ao posto de saúde mais próximo do circuito do carnaval. Minha irmã e nossos amigos sempre do lado... tensos, assustados, sem acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. No posto recebi um melhor atendimento, então foi feita a sutura nos cortes e os médicos alertaram que eu necessitava de um oftalmologista urgente
. Quando levantaram minha pálpebra, estava tudo escuro, não enxergava completamente nada... foi quando percebi que tinha perdido a visão do olho esquerdo. Não manifestei reação alguma, pois ainda estava em choque. Minha irmã tentou localizar oftalmologistas de plantão em hospitais particulares, mas não teve sucesso. Informaram que só havia oftalmologista de plantão na urgência do HGE. Sabíamos do caos que nos esperava, mas não havia pra onde correr. Minha irmã solicitou que a ambulância que ali estava de plantão me levasse ao hospital, mas eles se recusaram, alegando que tinha que esperar casos mais graves. Eu estava tendo hemorragia do olho e eles ainda não consideraram o caso grave o suficiente. Tivemos que descer uma ladeira imensa em busca de táxi. Nosso carro estava muito longe, não compensava voltar todo o percurso. Enquanto minha irmã e nossos amigos imploravam por um táxi, começou a jorrar sangue pelo meu nariz, mas era tanto sangue que lavou a minha camisa. Nisso os taxistas continuavam se recusando a me levar, simplesmente para não sujar o banco do carro. Acabamos encontrando um que aceitou, depois de muita conversa.

Fui levado ao HGE, quando chegamos percebi que a palavra açougue é um sinônimo pobre pra traduzir tudo aquilo ali. O caos morava ali. Eu e minha irmã vimos gente morrendo aos poucos do nosso lado pelos corredores, em condições muito piores do que a minha.
De imediato fui atendido por um médico totalmente escroto que me disse: calma amiguinho, você não vai morrer, apenas vai perder o olho. Fiquei tão transtornado com o que ele falou, que não tive reação alguma. Tinha a sensação de que eu estava anestesiado. Queria acreditar que aquilo tudo era um pesadelo, e que uma hora eu iria acordar. Lá estava eu, assustado, com a camisa toda suja de sangue, sobre uma maca fria de metal, com mil pensamentos passando pela cabeça, rodeado de pessoas agonizando. O que me deu força foi minha irmã, que não largou minha mão nem por um segundo. Ela mobilizou toda a equipe da urgência para que eu recebesse o melhor tratamento possível. Na verdade, eu só fui atendido graças a ela, que ficava pressionando os profissionais para que os exames fossem realizados, as medicações aplicadas. Sinceramente, nem sei como descrever o que minha irmã fez por mim... eu via uma força nela tão absurda que acabava me deixando forte também. Uma mulher de tanta coragem e atitude, que me senti o ser humano mais protegido do mundo naquele momento. Ela fez o possível e impossível para me ajudar. Não sei o que seria de mim se ela não estivesse ali do meu lado.

Eram 3h da manhã, e lá estávamos nós esperando a oftalmologista que já deveria estar lá de plantão. Foi quando disseram que a mesma só chegaria de 8h da manhã. Ficamos desesperados, porque meu quadro estava se agravando com o passar do tempo. Mas não nos restava outra alternativa a não ser esperar. O dia amanheceu. Eu e minha irmã não conseguíamos dormir, não conseguíamos comer, estávamos alertas, em choque ainda, digerindo toda a situação. Esperamos a oftalmo até às 10h da manhã e nada. Quando minha irmã conseguiu a informação que na saída de Salvador havia um hospital de especialidades em oftalmo e otorrino. Minha irmã me retirou do HGE indignada. Nossa amiga chegou com o carro e fomos voando em direção a este hospital de especialidades. Lá fui muito bem atendido por uma oftalmo e pela primeira vez ouvi que meu caso era extremamente grave e que eu precisaria me submeter a uma cirurgia com urgência. Todo o olho havia sido comprometido. Fiquei apavorado, com medo de nunca mais voltar a enxergar. Saímos de lá um pouco mais aliviados, já que eu havia passado por um especialista e estava com a receita das medicações a serem tomadas.

Fomos para casa, era quase 12h, exaustos. Chegando lá, pela primeira vez encarei o espelho, não me reconheci naquela imagem, meu olho totalmente deformado. Senti revolta, tristeza. Me perguntava porque tudo aquilo tinha acontecido comigo. Tomei um banho, chorei horas no chuveiro e fui tentar descansar. Precisávamos dormir pra no dia seguinte pegar a estrada rumo a Maceió. Estávamos há mais de 24h sem dormir, completamente esgotados física e emocionalmente. Não poderíamos seguir viagem naquele mesmo dia, seria perigoso demais enfrentar 10h de viagem com toda aquela exaustão. No dia seguinte, um pouco mais descansados, pegamos a estrada. Quando chegamos em Maceió fomos direto aos médicos, que já nos esperavam porque minha irmã já havia providenciado tudo por telefone. Ao chegar na clínica, encontrei minha mãe, meu irmão, minha cunhada e meus amigos, todos aflitos, tensos... um sentimento de tristeza e esperança tomou conta do ambiente. Foi quando finalmente me dei conta que tudo aquilo era real, não foi um pesadelo como eu gostaria que fosse. Só me restava enfrentar...".